
A influência materna na construção da autoestima
O vínculo entre mãe e filha é único, profundo e cheio de nuances. Desde a infância, você absorve não só o amor e os cuidados maternos, mas também inseguranças, expectativas e padrões emocionais. O modo como sua mãe se elogia (ou se critica), o jeito como fala do próprio corpo ou até comentários sutis sobre comportamento criam uma base invisível. Essa base pode fortalecer sua autoestima – ou miná-la.
A autoestima não surge do nada. Ela é construída pelas mensagens que você recebe sobre seu valor. Se sua mãe vivia em guerra com o espelho, talvez você tenha aprendido a associar seu valor à aparência. Se ela duvidava constantemente das próprias habilidades, essa insegurança pode ter se instalado em você. Mas aqui está o segredo: reconhecer esses padrões é o primeiro passo para transformá-los.
Os reflexos do olhar materno sobre si mesma
Você aprendeu a se enxergar observando sua mãe. Cada vez que ela desviava o olhar do próprio reflexo ou murmurava “Estou horrível”, uma semente de autocrítica era plantada em você. Essas mensagens não ficam restritas ao físico. Se ela hesitava em se posicionar no trabalho ou priorizava agradar os outros, você pode ter herdado medo de expressar suas opiniões.
Como quebrar o ciclo?
Olhe para a história da sua mãe com compaixão. Ela também foi moldada por experiências e crenças alheias. Ao entender isso, você cria espaço para ressignificar sua própria narrativa. Por exemplo:
Troque “Preciso ser perfeita” por “Posso ser humana”.
Substitua “Nunca sou boa o suficiente” por “Meu valor não depende de aprovação”.
Quebrando o ciclo da insegurança feminina
Talvez você tenha passado anos tentando atender a padrões de beleza, sucesso ou comportamento que nem eram realmente seus. Muitas mulheres crescem sentindo que nunca são boas o suficiente porque receberam mensagens de que sempre havia algo a ser melhorado. O problema é que essa busca constante por aprovação externa desgasta a autoestima e gera uma sensação permanente de insuficiência.
Mas a boa notícia é que você pode ressignificar essas crenças. O primeiro passo é perceber quais delas não são realmente suas, mas sim heranças inconscientes. Passo a passo para a mudança:
Identifique crenças emprestadas:
Pergunte-se: “Essa crítica vem de mim ou do que aprendi a acreditar?”.Crie um novo diálogo interno:
Troque “Não consigo” por “Vou tentar de outro jeito”.Celebre pequenas vitórias:
Reconheça cada vez que escolhe a autocompaixão em vez da autossabotagem.
Além disso, ao quebrar esse ciclo, você também abre caminho para um impacto positivo nas próximas gerações. Se um dia você tiver filhas, sobrinhas ou afilhadas, poderá oferecer a elas um modelo diferente – um em que o amor-próprio e a autoaceitação sejam mais fortes do que a insegurança. Sua jornada de cura não transforma apenas você, mas também as mulheres ao seu redor.
O impacto da terapia na relação entre mãe e filha
O relacionamento entre mãe e filha pode ser intenso, repleto de amor, mas também marcado por conflitos, mal-entendidos e feridas emocionais. Muitas vezes, você cresce absorvendo expectativas, inseguranças e padrões que nem percebe, e só na vida adulta começa a questionar esses legados.
A ideia de buscar terapia para melhorar o vínculo com sua mãe pode parecer desafiadora. Afinal, nem sempre é fácil falar sobre dores do passado ou encarar emoções que você aprendeu a ignorar. Mas ao se permitir esse processo, você abre espaço para uma conexão mais saudável e verdadeira, seja para fortalecer o vínculo ou para encontrar paz interior, independentemente de como sua mãe reage.
Transformação: quando uma mudança sua muda tudo
Nem sempre sua mãe estará disposta a mudar ou a fazer terapia junto com você, e está tudo bem. O mais poderoso nesse processo é que, quando você muda, a dinâmica entre vocês também muda. Você passa a reagir de forma diferente, a se afetar menos com cobranças injustas e a construir um espaço emocional mais seguro para si mesma.
A terapia não transforma apenas sua relação com sua mãe – transforma sua relação consigo mesma. Ela permite que você cure feridas, se liberte de padrões limitantes e descubra que é possível amar sua mãe sem precisar se perder no processo. Seja para fortalecer o vínculo ou para aprender a estabelecer limites saudáveis, essa jornada traz mais leveza e compreensão.
No final, você não precisa de uma mãe perfeita para ter paz. Você só precisa encontrar dentro de si o que sempre buscou: reconhecimento, segurança e amor próprio. E isso, felizmente, está ao seu alcance.

Referências:
CHERNIN, Kim. A obsessão: Reflexões sobre a tirania do corpo perfeito da mulher. Tradução de Léa M. Sussekind. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1988.
CHERNIN, Kim. The Hungry Self: Women, Eating and Identity. New York: Harper & Row, 1985.
ATWOOD, Margaret. Madame Oráculo. São Paulo: Rocco, 2003.
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