
Como a ansiedade nos faz atuar papéis sociais
Já percebeu como você muda dependendo de onde está ou com quem está falando? Em uma reunião de trabalho, sua postura é diferente daquela que você assume entre amigos ou quando está sozinho em casa. Isso acontece porque todos usamos máscaras sociais, adaptações criadas para nos encaixarmos em diferentes situações. Mas o que nos leva a assumir essas personas? Muitas vezes, é a ansiedade.
A ansiedade é como um alerta interno que avisa sobre possíveis ameaças, mesmo quando elas não existem de fato. No contexto social, ela nos faz antecipar rejeições, julgamentos e falhas, nos obrigando a moldar comportamentos para garantir aceitação. Quanto mais intensa essa ansiedade, mais forte é a necessidade de atuar um papel que não representa totalmente quem somos.
O medo da rejeição e a criação de personagens
Desde cedo, aprendemos que certas atitudes são valorizadas e outras podem levar ao isolamento. A ansiedade amplifica esse aprendizado, nos forçando a criar personagens que se encaixem nas expectativas alheias. Talvez você se sinta pressionado a ser sempre o engraçado do grupo, o profissional impecável ou a pessoa compreensiva que nunca reclama.
Esses papéis podem se tornar tão automáticos que nem percebemos quando estamos representando. O problema é que, ao desempenhar constantemente esses personagens, corremos o risco de perder a conexão com nosso eu autêntico. A ansiedade nos convence de que, sem essas máscaras, seremos rejeitados. Mas será que isso é verdade?Essa influência se estende para além do físico. Se sua mãe demonstrava insegurança ao se posicionar no mundo, você pode ter aprendido a ter medo de se expressar. Se ela se preocupava mais em agradar os outros do que em respeitar suas próprias vontades, você pode ter herdado essa dificuldade de dizer “não”. Mas entender de onde vêm esses padrões é o primeiro passo para mudá-los. Você pode olhar para a história da sua mãe com compaixão, reconhecendo que ela também foi moldada por suas próprias experiências. E, ao fazer isso, abrir espaço para uma nova forma de se enxergar.
O corpo sente o peso das máscaras
O desgaste de atuar papéis sociais é real e tem consequências físicas. Seu corpo sente quando você está forçando uma expressão ou suprimindo uma reação natural para se adequar a um contexto. Isso pode gerar tensão muscular, dores de cabeça e até distúrbios do sono. Quando a ansiedade dita quem devemos ser, nosso corpo paga o preço por essa desconexão.
A longo prazo, essa dissociação pode criar uma sensação de vazio ou confusão sobre quem realmente somos. É como se cada máscara carregasse um pedaço de nós, deixando nossa identidade fragmentada. Isso não significa que devemos abolir completamente os papéis sociais, mas sim reconhecer quando eles estão sendo impulsionados pelo medo e pela insegurança.
Encontrando espaço para ser você mesmo
Nem sempre é fácil abandonar essas máscaras, mas você pode começar criando momentos em que se sinta livre para ser autêntico. Isso pode acontecer em espaços seguros, como com amigos de confiança, em momentos de lazer ou até na solidão. Quanto mais você pratica a autenticidade, menos peso a ansiedade terá sobre suas interações.
Pergunte-se: quem sou eu quando ninguém está olhando? Esse é um convite para se reconectar com sua essência e, aos poucos, permitir que ela apareça mais no seu dia a dia. Afinal, suas máscaras não definem quem você é. A verdadeira liberdade está em ser você mesmo, sem medo do que os outros vão pensar.
Como Tirar a Máscara sem Entrar em Pânico
Você não precisa rasgar o disfarce de uma vez. Comece com pequenos gestos de coragem. Que tal experimentar isso:
Identifique seu “personagem principal”:
Qual máscara você usa mais? A “pessoa agradável”, a “profissional perfeita” ou a “amiga que nunca reclama”? Nomeie-a.Faça um teste de realidade:
Pergunte-se: “Se eu agir naturalmente, o que de pior pode acontecer?”. Spoiler: a resposta raramente é um desastre.Treine a autenticidade em doses:
No supermercado, cumprimente alguém sem forçar sorriso. Em casa, diga “Não estou bem hoje” sem culpa. Pequenos passos contam!Aceite o desconforto:
A ansiedade vai gritar: “Volte para a máscara!”. Respire fundo e lembre-se: desconforto temporário é o preço da liberdade.

Referências:
COSTA, Paulo Vitor Rodrigues da. O tempo da Ansiedade: Reflexões sobre um mal-estar contemporâneo. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2020.
VAN DER KOLK, Bessel. O corpo guarda as marcas: Cérebro, mente e corpo na cura do trauma. Tradução: Laura Teixeira. 1. ed. Porto Alegre: Editora Vestígio, 2021.
ZWEIG, Connie. Ao encontro da Sombra: O potencial oculto do lado escuro da natureza humana. São Paulo: Cultrix, 1991.